O governo de São Paulo está decidido a manter sua proposta de empregar policiais militares como monitores em escolas da rede pública estadual, mesmo após a Justiça barrar a medida. A contratação de PMs como monitores escolares se tornou o novo ponto de tensão entre o Executivo e o Judiciário, reacendendo o debate sobre o papel das forças de segurança dentro do ambiente educacional. A iniciativa, defendida pelo governo como uma estratégia de proteção, enfrenta críticas de especialistas e entidades educacionais, que enxergam nela um risco à pedagogia e ao clima escolar.
A decisão de recorrer para manter os policiais militares como monitores escolares demonstra que o governo paulista está disposto a enfrentar a resistência jurídica e institucional. Segundo a gestão estadual, a presença dos PMs dentro das escolas é uma resposta aos crescentes episódios de violência no ambiente estudantil. A proposta é que os militares atuem na mediação de conflitos, controle de acesso e apoio à equipe gestora, em vez de exercerem funções tipicamente policiais. No entanto, a proposta esbarra em interpretações constitucionais e pedagógicas.
A tentativa de manter os policiais militares como monitores escolares ocorre em meio a um cenário de tensão social e insegurança crescente. Em diversas regiões da capital e do interior, pais e professores relatam medo diante de ameaças, brigas e até casos de violência armada. O governo afirma que a medida busca proteger a comunidade escolar, especialmente após episódios trágicos registrados nos últimos anos em escolas brasileiras. A presença ostensiva de PMs, no entanto, é alvo de preocupação por parte de psicólogos e educadores.
Especialistas apontam que a proposta de incluir policiais militares como monitores escolares pode provocar efeitos colaterais indesejados. O ambiente escolar, por sua natureza, deveria priorizar o acolhimento, a escuta e o diálogo. A lógica militar, baseada na hierarquia, na obediência e na força, conflita com os princípios pedagógicos e com a autonomia do aluno. Há também o risco de criminalização precoce dos jovens, sobretudo em comunidades mais vulneráveis, onde o estigma da presença policial é mais forte.
O governo paulista justifica a contratação de policiais militares como monitores escolares com base na urgência em conter a insegurança, especialmente em regiões com histórico de violência. A proposta inclui ainda treinamentos específicos aos PMs, para que atuem com foco na convivência escolar e não na repressão. Ainda assim, o projeto enfrenta resistência de sindicatos da educação, conselhos tutelares e entidades civis, que alegam falta de debate amplo e de transparência na construção da política pública.
A judicialização da proposta de policiais militares como monitores escolares revela uma disputa maior sobre os rumos da educação pública no estado. O modelo proposto pelo governo de São Paulo é visto por muitos como um experimento autoritário, que ignora alternativas baseadas na mediação de conflitos, na ampliação de equipes pedagógicas e no fortalecimento da rede de apoio psicológico. A Justiça entendeu que a medida viola princípios constitucionais e compromete a função pedagógica da escola.
Mesmo com a suspensão judicial, o governo já se prepara para recorrer da decisão e reafirma sua disposição de manter os policiais militares como monitores escolares. O argumento principal da gestão é que o direito à segurança deve ser garantido em todos os espaços, inclusive dentro das escolas. Porém, essa visão simplifica um problema complexo e escancara a ausência de políticas estruturais para lidar com a violência infantojuvenil de forma preventiva, humanizada e eficaz.
A insistência em empregar policiais militares como monitores escolares levanta uma série de reflexões sobre o futuro da educação em São Paulo. Em vez de militarizar os corredores escolares, especialistas defendem o aumento do número de orientadores, psicólogos e assistentes sociais, além da valorização do corpo docente. A escola precisa ser espaço de paz, não de patrulhamento. O desafio do governo é encontrar um caminho que una segurança e pedagogia, sem apagar o papel formador e democrático que a educação deve ter.
Autor: Paula Souza