A mobilização contra a remoção de cerca de quatro mil famílias tem ganhado força em São Paulo, especialmente nos bairros do Jardim Pantanal e outras áreas do distrito Jardim Helena, na Zona Leste da capital. A decisão da Prefeitura, que planeja demolir mais de quatro mil imóveis para a construção de um gabião destinado a conter enchentes antigas, provocou um forte movimento de resistência por parte dos moradores afetados. O protesto recente bloqueou a Rodovia Ayrton Senna, demonstrando a insatisfação da população com o risco iminente de despejo.
O projeto da gestão municipal prevê a demolição de 4,3 mil imóveis, distribuídos em uma obra que será realizada em três fases até o final de 2029. O gabião, estrutura feita de malha de aço preenchida com pedras, tem como objetivo conter as enchentes que acometem a região há décadas, mas a execução da obra implica a remoção forçada de milhares de pessoas. A proposta do prefeito Ricardo Nunes é também evitar novas ocupações, limitando a expansão urbana nessas áreas.
Os moradores atingidos foram informados sobre três opções oferecidas pela Prefeitura para lidar com a remoção: indenização, auxílio aluguel ou reassentamento por meio de programas habitacionais. Contudo, a população local e movimentos sociais criticam a falta de um projeto habitacional claro e denunciam que as alternativas propostas não garantem moradia digna nem segurança para as famílias, que temem o aumento da vulnerabilidade social.
A Frente de Lutas Resiste Pantanal e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) estão na linha de frente da resistência contra os despejos. Eles alertam que a ameaça é iminente e, caso concretizada, representará um dos maiores despejos já realizados na história da cidade de São Paulo. O MTST denuncia a política de expulsar moradores pobres para favorecer a especulação imobiliária, ressaltando que a luta é para garantir o direito à moradia e combater a violência institucional.
Dados da Campanha Despejo Zero revelam um cenário preocupante: mais de um milhão de brasileiros enfrentam risco de remoção forçada, com São Paulo liderando o número de pessoas ameaçadas, totalizando mais de 360 mil. Esse contexto evidencia um grave problema social que afeta milhões, reforçando a urgência de políticas públicas que priorizem moradia adequada e direitos humanos.
O protesto recente e a resistência organizada indicam que a população não aceitará passivamente os despejos. A estratégia de fechamento de vias e manifestações públicas busca chamar atenção para a precariedade da situação e pressionar as autoridades por soluções justas e humanizadas. A mobilização tem ganhado apoio de diversas entidades e movimentos sociais que atuam em defesa da moradia.
Enquanto isso, a Prefeitura de São Paulo ainda não se manifestou oficialmente sobre os protestos, embora tenha reafirmado o compromisso com a obra do gabião e a contenção das enchentes. O impasse entre as necessidades de infraestrutura e a garantia dos direitos dos moradores cria um desafio complexo para o poder público e para a sociedade civil.
A situação em Jardim Pantanal e bairros vizinhos é um reflexo da crise habitacional que afeta grandes centros urbanos no Brasil. A tensão entre desenvolvimento urbano e direitos sociais deve ser enfrentada com diálogo e políticas que priorizem a dignidade humana, evitando despejos massivos e buscando soluções sustentáveis para os moradores.
Autor: Paula Souza