As mudanças climáticas vêm impondo desafios cada vez maiores às cidades, especialmente na proteção de grupos vulneráveis. Nos últimos anos, episódios de frio intenso, calor extremo e chuvas volumosas se tornaram mais frequentes, exigindo respostas rápidas e coordenadas. Entre as populações mais expostas a esses riscos estão aquelas que vivem sem acesso a moradia, para quem cada frente fria ou onda de calor representa uma ameaça direta à saúde e à vida. Essa realidade coloca em evidência a necessidade de políticas públicas mais inclusivas e permanentes.
O problema não pode ser visto apenas como uma questão meteorológica, mas também como um reflexo profundo das desigualdades sociais. Em grandes centros urbanos, a falta de moradia afeta milhares de pessoas, criando um cenário onde vulnerabilidade climática e exclusão social se sobrepõem. Nesse contexto, a proteção contra os efeitos do clima passa a depender de ações que integrem assistência social, saúde pública e planejamento urbano, indo além de respostas emergenciais pontuais.
Embora algumas iniciativas já tenham sido implementadas, muitas ainda operam em caráter temporário, atuando apenas nos períodos mais críticos do ano. Isso ignora a frequência crescente de eventos climáticos extremos e a persistência da falta de moradia como problema estrutural. Programas voltados para acolhimento e proteção devem ser concebidos como políticas permanentes, capazes de oferecer segurança e dignidade o ano todo, e não apenas em situações de crise.
Entre as ações já existentes, destacam-se operações voltadas para o atendimento em noites frias, com distribuição de cobertores, oferta de refeições e ampliação temporária de vagas em abrigos. No entanto, estudos apontam falhas como infraestrutura insuficiente, falta de integração entre órgãos responsáveis e ausência de dados detalhados sobre o estado de saúde da população atendida. Essas lacunas dificultam o planejamento e reduzem a eficácia das medidas, reforçando a necessidade de uma reestruturação mais abrangente.
A coleta de informações precisas é outro ponto crítico. Sem registros adequados, é impossível compreender a dimensão dos impactos climáticos sobre os mais vulneráveis ou medir os resultados das políticas adotadas. A ausência de indicadores específicos para casos de morte ou adoecimento em decorrência da exposição ao clima compromete o controle social e a transparência. Melhorar a base de dados é um passo essencial para que a gestão pública possa agir com mais eficiência.
A integração entre diferentes áreas do poder público também é fundamental. A assistência social, a saúde, a habitação e a defesa civil precisam atuar de forma articulada, compartilhando informações e recursos. Essa coordenação garante que as respostas sejam mais rápidas e abrangentes, prevenindo perdas de vidas e reduzindo o impacto das emergências climáticas. Além disso, o envolvimento de organizações da sociedade civil pode ampliar o alcance das ações e fortalecer a rede de proteção.
O controle social e a participação cidadã devem ser fortalecidos para garantir que as políticas cheguem a quem realmente precisa. Avaliações participativas, que considerem a visão de quem vivencia diretamente a falta de moradia e os impactos climáticos, podem trazer soluções mais adequadas e realistas. A transparência, aliada à prestação de contas e à definição de indicadores claros, é chave para melhorar a qualidade e a efetividade das medidas implementadas.
Ao reconhecer que as emergências climáticas não afetam a todos da mesma forma, abre-se caminho para políticas mais justas e humanas. A proteção das populações mais expostas exige mais do que ações emergenciais; requer um compromisso de longo prazo, que una prevenção, inclusão social e justiça climática. Somente assim será possível transformar um cenário de vulnerabilidade em um futuro de resiliência e dignidade para todos.
Autor: Paula Souza